A violência contra mulheres na Universidade: denúncias e enfrentamento.

No último dia 10 de março, sexta-feira, portais de notícia locais noticiaram que duas mulheres foram vítimas de um assalto dentro da Universidade Federal do Espírito Santo, no Campus de Goiabeiras. Na ocasião, apresentação de Trabalho de Conclusão de Curso de uma delas, foram levados dois notebooks e pertences das vítimas. Elas também foram trancadas na sala em que ocorreria a apresentação e ameaçadas caso gritassem por ajuda. Diante do fato, alguém poderia argumentar que essas duas mulheres tiveram sorte, pois, com exceção do prejuízo patrimonial, saíram ilesas. Contudo, tal situação mostra a vulnerabilidade a qual não somente as discentes, mas também técnicas, professoras e demais frequentadoras da Universidade estão expostas.

Em uma rápida busca por notícias que registrem esses casos, não faltam relatos de tentativas e de consumação de violência dentro no Campus, não se configurando, portanto, em um acontecimento novo. Uma delas é do ano de 2012, quando, durante uma festa de música eletrônica, uma jovem de 19 anos foi rendida por um homem armado ao procurar por um banheiro e vítima de estupro. A Universidade se manifestou afirmando não ter conhecimento da festa que havia ocorrido, sem declarar se tomaria medidas de apoio à vítima ou de prevenção de novos crimes.

Novamente em 2015, uma estudante de 23 anos, do Centro de Línguas, contou ter sido abusada por um vigilante, dentro da Universidade, enquanto aguardava pela aula. Ele a teria avisado sobre o perigo de estar sozinha e, sob o argumento de que um meliante se aproximava, a conduziu para um local escondido, onde se esfregou nela e passou a mão pelo seu corpo. O funcionário, contratado de uma empresa terceirizada, foi afastado de suas funções.

Mais recentemente, em 2016, a tentativa de estupro sofrida por uma estudante de cinema, próximo ao CEMUNI, repercutiu na mídia e na comunidade acadêmica devido a resposta dada pela Universidade para tentar reprimir crimes semelhantes. Como medida de segurança, optou-se por retirar algumas árvores do campus, além disso, efetuou-se um corte no quadro de funcionários responsáveis pela já então precária segurança universitária.

Esse histórico de ocorrências apresentado pela UFES tem gerado questionamentos à forma como a administração ora se silencia, ora falha em buscar ações que previnam e reprimam a violência contra mulheres em seu espaço. Destaca-se que o número de casos não representa a dimensão real da violência, uma vez que abrange somente os crimes divulgados na mídia e/ou denunciados. Ademais, as agressões não se manifestam apenas de forma direta, como retratado nos casos acima, mas também nas diversas violências sutis que as alunas e servidoras enfrentam no espaço acadêmico, praticadas por colegas, docentes e funcionários, tema da fala da professora Maria Beatriz Nader, no último Dia Internacional da Mulher, 8 de março, em um debate sobre o documentário “Precisamos falar de assédio”, no auditório do CCJE.

Durante o evento, insistiu-se que a Universidade precisa ir além das medidas empreendidas até o momento, centrando-se no atendimento das vítimas, que devem se sentir seguras para denunciarem a violência sofrida ou que venham a sofrer, na certeza de que elas se desdobrem em ações concretas. Percebeu-se que existem pessoas dentro da Universidade interessadas em pesquisar e se posicionar sobre o tema, haja visto o trabalho desenvolvido por Nader e os coletivos de alunas. Contudo, é preciso que esses grupos dialoguem e que se estimule a discussão permanente sobre a violência.

Luciana Silveira – doutoranda do PPGHIS/UFES

Wendy Xavier P. Fernandes -  graduanda do curso de História da UFES

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