Artigo - Violência que continua

Não raro, vemos na mídia, notícias de violência contra mulheres envolvendo pessoas famosas, como o caso recente de Victor, da dupla Victor e Léo, acusado de agredir fisicamente a esposa, Poliana Bagatini, grávida do segundo filho do casal. São ainda exemplos notórios o dos atores Johnny Depp e Casey Affleck, este último denunciado de assédio sexual contra duas colegas de trabalho e premiado, como melhor ator, na última edição do Oscar.

Infelizmente, tais casos não são novidade na história, como retratam as pesquisadoras Maria Beatriz Nader e Lana Lage, em capítulo do livro “Nova História das Mulheres no Brasil”, intitulado “Da legitimação à condenação social”. No texto, as autoras abordam, inclusive, o assassinato de Eliza Samudio por Bruno Fernandes, ex-goleiro do flamengo, em 2010, que voltou a ganhar notoriedade, em 2017, devido a sua liberação por um habeas corpus, em liminar deferida pelo Supremo Tribunal Federal. Mesmo aguardando julgamento de sua apelação ao Tribunal de Justiça de Minas Gerais, Bruno já teria recebido nove propostas de clubes brasileiros.  

A premiação de Casey e as ofertas direcionadas a Bruno são dados que demonstram que, a despeito das acusações, os agressores não têm suas carreiras e imagens destruídas, ao contrário das vítimas, que sofrem duplamente com a violência, pois além de agredidas tem suas vidas e comportamento escrutinados pela opinião pública, em uma tentativa de justificação da violência e culpabilização das mesmas. Observa-se ainda que a violência de gênero não ocorre quando há uma condição financeira específica, raça ou idade, bem como os agressores não dão sinais aparentes de sua face violenta ou “monstruosa”, como comumente se considera.

Na “Semana da Mulher” (e não somente nela), é preciso lembrar que a violência de gênero é uma ferramenta de controle social de homens e mulheres, institucionalizada e legitimada pelo patriarcado. Torna-se uma questão social na medida em que é incluída como bandeira de luta do movimento feminista, mas que segue como problema de primeira ordem. Isso porque seu enfrentamento vai além da penalização e da correta aplicação de leis e políticas públicas, mas exige uma completa revisão dos valores engendrados na sociedade. Ou seja, é uma responsabilidade de todxs.

Luciana Silveira – doutoranda do PPGHIS/UFES

Wendy Xavier P. Fernandes -  graduanda do curso de História da UFES

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